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Dieselpunk: Arquivos confidenciais de uma bela época

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Dieselpunk é uma antolgia de noveletas da Editora Draco que apresenta histórias num início do século 20 alternativo, ou seja, dieselpunk. Com uma tecnologia mais avançada do que realmente tivemos na história (lembra do steampunk do século 19?), temos cenários de uma história alterantiva que nos mostra como o mundo e o Brasil poderiam ter sido se a tecnologia tivesse avançado mais rapidamente.

Título: Dieselpunk: arquivos confidenciais de uma bela época
Organizador: Gerson Lodi-Ribeiro
Autores: Carlos Orsi, Tibor Moricz, Octavio Aragão, Hugo Vera, Antonio Luiz M. C. Costa, Cirilo S. Lemos, Sid Castro, Jorge Candeias e Gerson Lodi-Ribeiro.
Editora: Draco
Páginas: 384

Locomotivas rápidas, aviões velosos, guerras civis e intrigas internacionais. Esse é o clima de Dieselpunk, uma antologia interessante, mas que peca pelo excesso de histórias com ambientação parecida: Brasil, monarquia, barão de Mauá, Getúlio Vargas. Confira um pouco de cada história.

Tipo vaporpunk, mas com combustão interna.

Fúria do Escorpião Azul, de Carlos Orsi

Nessa trama temos um Brasil quase stalinista e para salvar todos do regime, aparece a figura do Escorpião Azul, uma espécie de herói mascarado que vaga pela noite.

O conto traz aquela dinâmica violenta e detetivesca dos pulp, com um herói sombrio e de passado amargo. Apesar de uma visão um tanto quanto maniqueísta sobre bem e mal, comunismo e capitalismo, gostei do conto que rendeu uma leitura prazerosa e interessante, com uma leve surpresa no final.

Grande G, de Tibor Moricz

Esse é um conto erótico em que a intriga política e econômica fica totalmente no pano de fundo. Temos uma protagonista jovem e sexualmente disposta, Georgette, que deseja destruir o império do avô e do pai através de espionagem industrial.

Mas o foco de “Grande G” é mesmo sexo, com muitas cenas explícias envolvendo violência, incesto e abuso. Sinceramente, como mulher, me senti um pouco ofendida com esse conto. Uma adolescente descrita como sempre pronta para o sexo, que não questiona nunca os abusos que sofreu e sofre por parte dos homens de sua família. Pelo contrário, ela adora transar com qualquer e qualquer coisa e usa disso como uma arma para conseguir seus objetivos. Que conveniente, não?

A clássica ninfeta totalmente desprovida de senso crítico, cujo único pensamento é satisfazer suas necessidades sexuais mais vorazes. A cena em que ela fica excitada logo após um estupro violento me deixou pasma. Não, não estou sendo puritana, mas realmente não consigo me conectar com um texto assim e a crítica econômica se perdeu.

O Dia em que Virgulino cortou o Rabo da Cobra sem Fim com o Chuço Excomungado, de Octavio Aragão

O que aconteceria se o bando de Lampião encontrasse a Coluna Prestes?

Ficção de história alternativa sempre começa com esse tipo de pergunta meio louca e os bons contos conseguem nos responder. Tudo começa do jeito histórico que conhecemos em 1925: o governo oferece a Lampião uma patente de capitão caso ele ajude a derrotar a Coluna Prestes. Então aparece um Carioca dizendo vir do futuro com um monte de armas modernosas para contrabalancear essa guerra. Mas não do jeito que ele imagina.

Essa história não me fez ficar na ponta da cadeira, mas é bem escrita, com personagens bem caracterizados e plausíveis. Os questionamentos de Prestes, Lampião e Siqueira Campos são interessantes e é gostoso imaginar o que teria acontecido se as coisas tivessem sido diferentes.

Impávido Colosso, de Hugo Vera

Dom Pedro III. Monarquia. Barão de Mauá. Guerra com a Argentina. O grande trunfo dos brasileiros é um monstro de tecnologia bélica chamado Impávido Colosso, uma espécie de robô gigante criado pelo Barão de Mauá. A esperança para brasileiros e paraguaios.

A minha ressalva com esse conto foi a falta de caracterização dos personagens, principalmente da paraguaia, descrita quase estritamente em termos de sua sensualidade de super espiã. Não me empolgou.

País da Aviação, de Gerson Lódi-Ribeiro

Esse conto se estende por um período de mais de 150 anos e contém muita informação. Confesso, fiquei um tanto perdida.

A história alternativa versa sobre um possível desdobramento de uma decisão de Napoleão Bonaparte que o faz vencer sua guerra. A partir daí o conto se envereda em notas históricas possíveis e termina com os irmãos Wright sendo convidados a entrar para a equipe de Santos Dumont na construção de aviões. Conflitos e guerras inteiras de desenrolam e eu fiquei sem saber ao certo o que estava acontecendo e qual o propósito do conto. Bem pesquisada, claro, mas não consegui me conectar com a história.

Ao Perdedor, as Baratas, de Antônio L. M. C. Costa

Mais um Brasil alternativo do início do século 20, mas dessa vez republicano, com uma história em que indígenas e portugueses tiveram um encontro bem diferente e mais positivo. Um espião de um país europeu tenta fraudar uma eleição importante que pode mudar o rumo de tudo em terras brasileiras. Boa ambientação, mas, apesar de eu ter me divertido com as referências literárias e artísticas, se perdeu no enredo.

O que foi mais interessante para mim no conto foi mesmo a questão do trato com a diferença, uma característica que sempre aparece nos textos desse autor. O preconceito, a ideia de raça, tudo isso é discutido de uma forma interessante, mas que infelizmente se perdeu um pouco na falta de caracterização dos personagens.

Auto de Extermínio, de Cirilo S. Lemos FAVORITO DA VIDA

Para tudo! Esse conto vale o livro inteiro. Depois disso, lerei sempre Cirilo S. Lemos. Num Brasil dos anos 1920 bem diferente do que tivemos, Dom Pedro III tem seu governo ameaçado enquanto integralistas e comunistas tentam ganhar apoio popular. Enquanto isso, um matador de aluguel que vê uma santa que lhe dá conselhos tem uma missão importante a cumprir. Sim, conspirações políticas tensas no ar com um final surpreendente.

A escrita de Cirilo Lemos é densa, mas fluida, e seu texto explora um encontro interessante entre ficção científica e fantasia. Os personagens são ótimos, as críticas feitas são viscerais. Pare o que você está fazendo e compre agora mesmo E de Extermínio, o novo livro do Cirilo que se desenvolveu a partir desse conto. Foi o que eu fiz.

Cobra de Fogo, de Sidemar Castro

No unvierso dessa noveleta, temos de novo um Brasil monárquico numa história alternativa. Dessa vez, o problema é uma guerra mundial pela Amazônia. O jeito de resolver a disputa? Uma espécie de corrida maluca pelo mundo com locomotivas altamente tecnológicas. Eu confesso que não consegui entrar na lógica do conto e fiquei com uma sensação estranha enquanto lia.

Foram vários clichés que não consegui subverter: sabotagem das outras equipes, um romance mais ou menos inesperado, vilões e heróis. Não consegui estabelecer um pacto de leitura.

Só a morte te resgata, de Jorge Candeias

Uma história bastante bem escrita e interessante. Nela, a Confederação Lusitana luta contra o restante da europa que é racista. No meio desse conflito bélico e ideológico está Jeferson, o filho de um antigo senhor de escravos do sul do Brasil que está revoltado com a abolição da escravatura. Ele decide então se aliar às demais nações europeis contra a Confederação.

Jorge Candeias, mais conhecido por traduzir os livros de George Martin para português, nos mostra de uma forma inquietante como funciona a cabeça de um homem racista, que acredita mesmo que é superior. A vontade que eu tinha era dar um tiro nesse imbecil, então acredito que o conto, que tem um teor totalmente anti-racismo e anti-imperialismo, atingiu seu propósito.

*

Meu problema com Diseselpunk é que muitas noveletas se preocuparam mais com ambientação do que com o desenvolvimento dos personagens e da trama. Talvez isso seja uma característica do gênero, talvez eu não seja mesmo o público alvo. Sempre gostei mais do ramo da ficção especulativa que se preocupa com personagens mais que com cenários. Mas existem aqueles com preferências diferentes.

Onde comprar:

Papel: Travessa Cultura |FNAC | Comix | Saraiva | Geek| Livraria da Folha

E-book: Amazon | AppleCultura Kobo | Saraiva |Google

Melissa é escritora, blogueira e fica hiperativa com açúcar. Tem contos publicados em antologias das editoras Draco, Buriti e Cata-vento além de trabalhos independentes na Amazon. É autora do livro infantil A Última Tourada.

http://mundomel.com.br

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